quarta-feira, 14 de abril de 2010

Resistência da direita à abertura política

João Batista de Oliveira Figueiredo assumiu a presidência comprometendo-se publicamente em realizar a "abertura" que conduziria o país ao estado de direito. Com seu jeito destemperado, fez declarações cômicas a respeito, tais como "prendo e arrebento quem se opuser à democratização do país". Apesar do sentido um pouco contraditório pelo modo truculento de democratizar, isso era interpretado como uma manifestação de sinceridade, própria de seu gênero autêntico. A contradição real era porém outra. Ou seja, a do seu ministério. Com exceção de Golbery, de corpo e alma empenhado na abertura, e de poucos outros, havia ministros francamente antipáticos à idéia de democratização. Esse sentimento era bem explícito, no caso do Chefe do SNI, Otávio Medeiros.

O produto desse descompasso dentro das hostes governistas foram os violentos atentados terroristas praticados contra organizações da sociedade civil que se vinham destacando na luta contra o arbítrio. Ao longo dos anos 80 e início de 1981 ocorreram numerosas explosões de bombas, com finalidades intimidadoras. Em um desses atentados morreu a Sra. Lida Monteiro da Silva, secretária da OAB, ao abrir uma carta-bomba, em agosto de 1980. O ato comoveu o país. E o próprio presidente da República discursou pedindo que os terroristas o escolhessem como alvo, deixando em paz pessoas inocentes.
Porém, o terrorismo atingiu o clímax em abril de 1981. No dia 30, no estacionamento do Riocentro, onde era realizado um show de música popular, uma bomba explodiu dentro de um carro esporte matando um sargento e ferindo gravemente um capitão do exército. Não havia muito o que explicar. Era tudo muito óbvio. Apesar disso, as autoridades do Exército arrogaram o inquérito para si, concluindo-o com a não muito surpreendente afirmação de que ambos os militares foram vítimas de um atentado. Mediante a incrível conclusão ficava claro que João Figueiredo não controlava os radicais que trabalhavam para obstruir a abertura. E mais claro ainda ficou quando o general Golbery do Couto e Silva, o idealizador da abertura, demitiu-se do Gabinete Civil da Presidência.
Golbery foi substituído por João Leitão de Abreu, um civil conhecido por suas ligações com o grupo do ex-presidente Médici. No entanto, a marcha da abertura já ganhara ritmo próprio e nem mesmo o ataque cardíaco de João Figueiredo, que o obrigou a afastar-se da presidência, sustou o processo.
Fonte: Enciclopédia de História do Brasil