quarta-feira, 14 de abril de 2010

Campanha pelas diretas já

O governo Figueiredo estava destinado a fechar o ciclo dos governos militares. Conforme o pensado pelos estrategistas do regime, o poder deveria cair nas mãos do PDS. Desse modo, o ciclo fechar-se-ia com chave de ouro. No entanto, o governo Figueiredo fora extremamente difícil. Apesar do fim do AI-5, da anistia e das eleições diretas para governador em 1982, houve uma brutal recessão econômica, provocando rebaixamento salarial, desemprego e total desilusão com o regime inaugurado em 1964.

Esse estado de espírito geral ficou claro quando uma despretensiosa emenda apresentada por um deputado do PMDB de Goiás, Dante de Oliveira, em março de 1983, passou a chamar atenção do público, sobretudo após as declarações favoráveis do Cardeal D. Paulo Evaristo Arns e de D. Ivo Lorscheiter, secretário-geral da CNBB. A emenda constitucional tinha por finalidade transformar as eleições indiretas de 1985 em eleições diretas.
O primeiro comício pelas diretas aconteceu em Goiânia, reunindo cinco mil pessoas. No entanto, à medida em que as grandes lideranças políticas nacionais foram aderindo – Teotônio Vilela, Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Tancredo Neves, Leonel Brizola, Lula – a campanha foi ganhando impulso e reunindo multidões.
Com o comparecimento de artistas populares e sempre apresentados pelo locutor esportivo Osmar Santos, os comícios pelas diretas – DIRETAS Já – tornaram-se arrebatadores, superando em muito tudo o que já se vira em termos de mobilização política.
No início de abril de 1984, o comício pelas diretas no Rio de Janeiro reuniu cerca de 500 mil pessoas. No dia 16, em São Paulo, reuniram-se 1 milhão e setecentas mil pessoas.
Embora nem o governo nem o PDS estivessem dispostos a abrir mão de usar suas prerrogativas de designar seu candidato pela via indireta, o governo sobressaltou-se com a campanha. Órgãos de comunicações social ligados ao regime, como a Rede Globo de Televisão, que pretenderam ignorar os comícios, tiveram que se render às evidências, filmando-os e comentando-os, sob pena de completa desmoralização.
Na noite de 25 de abril, a emenda Dante de Oliveira foi votada. Embora tenha obtido maioria de votos, a emenda não passou por falta de quorum, já que 112 deputados do PDS se ausentaram do plenário. Faltaram apenas 22 votos para ser aprovada.

Fonte: enciclopédia de história do Brasil