sexta-feira, 9 de abril de 2010

Os trabalhadores e o golpe de 1964


Resenha do texto: Os trabalhadores e o golpe de 1964.

O objetivo principal do autor foi realizar um balanço historiográfico acerca do papel dos trabalhadores as vésperas do golpe civil-militar em 1964, ou seja, como os historiadores refletiam o golpe e a influência deles para o nosso pensamento atual.

Esta passagem pela historiografia do golpe vem desmistificar alguns mitos encontrados que procuram desencorajar os trabalhadores, as organizações sindicais e a mobilização em massa.

Nos primeiros anos do golpe a historiografia analisava o papel dos sindicatos no golpe como um movimento sem autonomia e desorganizado negando constante aumento do numero de sindicatos e a suas articulações entre si.

A partir da década de 1970, as interpretações seguiam duas linhas de pensamento. Uma visão era a de que a economia dependente do capital internacional estava em crise e o estado deveria intervir providencialmente. A outra linha de raciocínio via na massa organizada um perigo, ou seja, o chamado pacto populista montado por Vargas estava se desfazendo.

Já Francisco Weffort defende a teoria de sindicalismo populista, uma vez que sua estrutura dual com a aliança formada pela esquerda com Goulart articulada a estrutura sindical conseguiu uma grande mobilização dos trabalhadores ligados às empresas estatais.

Vinte anos após o golpe, René Dreifusss foi o primeiro a sustentar a tese de que o golpe não foi meramente militar, ou seja, ele demonstrou que a elite do empresariado nacional organizou-se e permaneceu no centro dos acontecimentos articulando o golpe.

Apesar de inovadora, a tese de Dreifuss peca por deixar de lado a resistência da classe trabalhadora e com isso acaba caindo nas formulações anteriores que analisava a incapacidade de organização dos sindicatos.

Outro marco historiográfico para a interpretação do golpe está na década de 1990 onde foi percebida uma articulação entre lideranças sindicais e os setores militares que estavam dispostos a resistir ao golpe. Segundo estes militares, a resistência não ocorreu por falta de uma ordem do presidente João Goulart.

De fato, a historiografia da década de noventa analisa a esquerda no sentido de ser pró-reformas, mesmo que isso custe à democracia. O PCB segue a linha da Terceira-Internacional em que a esquerda deveria aliar-se aos burgueses nacionalistas, mas o que faltou na vanguarda da esquerda nacional foi a analise da conjuntura nacional e tentar articular as diretrizes seguidas pelos comunistas internacionais.

Os debates reacenderam acerca dos quarenta anos do golpe, mas acaba sendo um retrocesso, pois em que alguns livros há a negação da motivação econômica e centra-se em explicações que são movidas ao sabor do acaso.

Após essa passagem pela historiografia acerca da força da classe trabalhadora no momento do golpe de 64, constatamos que sempre houve um receio por parte dos historiadores em incluir os trabalhadores e os sindicatos na historiografia no sentido de capacidade de mobilização e articulação.

Assim, certa incoerência é encontrada, pois a partir de 1952 deu-se a grande expansão das organizações sindicais e inclusive saindo do eixo Rio - São Paulo.1

A década de sessenta tem inicio em meio ao crescente aumento dos conflitos políticos. A classe trabalhadora organizada em sindicatos foram elementos importantes na luta pelo poder que envolveu a opção por diferentes modelos econômicos e os sindicatos que eram controlados pelo PCB estiveram no centro da luta política obedecendo às diretrizes da terceira – internacional representando a classe média nacional.

A partidarização dos movimentos sindicais foi fortalecida com a posse de João Goulart e por isso o novo governo representava para as elites um grande perigo a sua hegemonia. As forças sindicais em questão estão polarizadas entre comunistas e nacionalistas, ou seja, ambas não representavam o desejo das elites nacionais.

Outro fator esquecido pela historiografia é a inserção do golpe no ambiente de Guerra Fria. Para os EUA, os movimentos de esquerda eram considerados fascistas e deveriam ser combatidos. Os militares, após o termino da segunda guerra estavam imbuídos dessa ideologia e fundaram a ESG (Escola Superior de Guerra).

Para essa visão a articulação de alguns setores militares com as elites torna-se providencial para a manutenção de seus privilégios.

Assim, a propagação das greves por todo o país, tanto no setor privado quanto estatal, representa um perigo iminente paras as elites.

Com isso, não podemos negar que a chamada greve dos 700 mil em 1963 não teve nenhuma influencia na articulação da elite com os militares posteriormente golpistas. O grande medo do patronato é aumentado com a integração dos sindicatos formando a CGT (comando geral dos trabalhadores), em que esta organizava as greves reinvidicando melhores salários e uma negociação direta e conjunta com a FIESP.2


Resenha do texto: Autor Marcelo Badaró Mattos os trabalhadores e o golpe de 1964.


1 FAUSTO, Boris (org). SAES, Décio .A.M. Brasil republicano, v.3: Sociedade e Política (1930 – 1964). Rio de Janeiro. Bertrand Brasil. 2004. Página 535.

2 Idem. Página. 541.