sexta-feira, 9 de abril de 2010

O golpe militar de 1964


Pressionado pela esquerda e desafiado pela direita, João Goulart decidiu-se a efetuar as Reformas de Base por meio de decretos anunciados em praça pública. Para isso, confiava no apoio do dispositivo militar e sindical favorável às mudanças.
O primeiro, e último, dos comícios foi realizado na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, a 13 de março de 1964. O conhecido "Comício da Central" reuniu no mesmo palanque figuras favoráveis às reformas, vinculadas a diversos grupos políticos: os três ministros militares, o deputado Leonel Brizola, o governador Miguel Arraes e vários outros. Cerca de 150 mil pessoas estiveram presentes, protegidas pelas tropas do I Exército. Em todos os discursos prevaleceu o tom radical. Brizola defendeu a idéia da reforma contra o Congresso. E o próprio Goulart afirmou que só o povo poderia fazer as reformas contra os interesses das elites. Para marcar sua posição junto ao povo, anunciou a assinatura do decreto da Superintendência da Reforma Agrária (SUPRA).
A primeira resposta conservadora aconteceu no dia 19. Organizada pelas senhoras católicas de São Paulo, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade reuniu perto de 500 mil pessoas, que desfilaram pelas ruas da capital paulista em protesto contra a esquerdização do país. Logo a seguir, marchas semelhantes aconteceram em Santos e no Rio de Janeiro.
A situação de crise aprofundou-se mais quando, no dia 24 de março, o Ministro da Marinha, Sílvio Mota, ordenou a prisão dos dirigentes da Associação dos Marinheiros, devido às declarações por eles prestadas. A Associação, cujo principal líder era o conhecido cabo Anselmo, mais tarde descoberto como agente provocador, se havia destacado por seu radicalismo. Contudo, à revelia do ministro, que se demitiu, Jango ordenou a soltura dos dirigentes.
No dia 30, Goulart, pela televisão, anunciou que efetuaria as reformas prometidas e afirmou estar a oposição "financiada pelas remessas ilícitas das grandes companhias estrangeiras e pelos latifundiários".
No dia 31, teve início o golpe militar. O primeiro passo foi dado pelo general Olímpio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar, em Juiz de Fora. Mourão Filho declarou a cidade como sendo a "capital revolucionária do país", dirigindo suas tropas para o Rio de Janeiro. Ao contrário do esperado pelos próprios conspiradores civis e militares, não houve reação organizada. Jango afirmou que resistiria, mas desistiu. Miguel Arraes foi preso em Recife. Brizola não logrou reeditar a resistência de 1961, e exilou-se no Uruguai, para onde Jango se dirigiu, no dia 2 de abril, após Auro Moura Andrade, presidente do Senado, ter declarado a vacância do cargo de presidente e empossar o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, no dia 1 de abril.