Na matéria publicada no jornal O Globo em 22 de dezembro de 1969, “estourados mais quatro ninhos de terroristas”, notamos a influência ideológica do autor ao desqualificar a guerrilha, pois quem mora em ninho é bicho. Além disso, a palavra terrorista foi largamente utilizada para desqualificar as ações armadas e, consequentemente, justificar as ações violentas do governo.
Em outras ocasiões O Globo também demonstrou em todo o momento deslegitimar os guerrilheiros. Após o assassinato de Carlos Marighela, ele noticiou a “eficiente” ação do Dops para o assassinato do chefe do “bando terrorista”.
Em alguns casos, para expressar uma noção de verdade absoluta, a imprensa utiliza mecanismos objetivando silenciar determinados atores sociais e, com isso, apresentar uma verdade oficial dos fatos. Desse modo, a posição e a página ocupadas pela notícia tentam silenciar a natureza política do ocorrido1.
Acusado de denunciar Merival Araújo, sob tortura na sede do DOI – CODI, na Rua Barão de Mesquita, quatro tiros mataram o professor de história Francisco Jacques de Alvarenga no colégio Veiga de Almeida em 1973. A ALN assumiu a responsabilidade pelo justiçamento. Na morte política do professor, O Globo noticiou a chamada da reportagem ao lado da notícia de um ato terrorista na França. Assim, fatalmente o leitor fará uma associação entre um fato e outro. A reportagem ficou exposta na mesma página que os crimes comuns. Dessa forma, o jornal articulou as reportagens buscando silenciar a natureza política do ocorrido.
1 ABREU, João Batista de. As manobras da informação: análise da cobertura jornalística da luta armada no Brasil: (1965 – 1979). Rio de Janeiro. EdUFF. 2000. P. 151.