sexta-feira, 9 de julho de 2010

Política do governo Goulart e a construção da memória

Resenha do artigo:

DELGADO,lucilia de Almeida Neves.O governo João Goulart e o golpe de 1964: memória, história e historiografia. in: Revista tempo. UFF. Niterói. 2010.


Lançada no mês passado, a edição 28 da revista tempo é uma publicação do departamento de história da Universidade Federal Fluminense e essa edição tem como tema central o período democrático, 1946 - 1964,  no Brasil.
Iniciando com a apresentação do Dr Jorge Ferreira, a revista aborda algumas conjunturas do período e encerra com o belo artigo da Doutora Lucília de Almeida Neves Delgado tratando das construções da memória do governo Goulart. Este será o artigo analisado nessa breve resenha.
O artigo denominado "O governo João Goulart e o golpe de 1964: memória, história e historiografia" analisa a construção do esquecimento acerca do último governo antes da ditadura militar através de um balanço historiográfico articulando diversos autores de diversas gerações.
Dessa forma, a autora afirma que a produção acadêmica acerca desse período foi numericamente pouco expressiva para um governo tão importante, que representou a renovação do varguismo e pretendeu modifica profundamente a estrutura social do país.
Porém, a partir do século XXI, essa situação começa a ser alterada e o estudo acerca do período jango é renovado e o ponto fulcral para que essas mudanças acontecessem foram as comemorações nos 40 anos do golpe em 2004.
A autora apresenta a divisão construção da memória do governo jango em três diferentes interpretações:
A primeira interpretação é a chamada estruturalista e aponta para as contradições sociais cada vez mais alargadas pelos governos anteriores como o principal fator para a deposição do presidente Jango. Nessa perspectiva encaixam-se as teorias de Fernando Henrique Cardoso e Otavio Ianni.
A outra interpretação enfatiza a visão do caráter preventivo do golpe e afirma que o descontentamento dos setores conservadores da política brasileira, principalmente os latifundiários e os representantes das grandes indústrias foram fundamentais para o golpe fosse desencadeado.
Uma terceira geração analisa a partir de uma ótica conjuntural, onde os setores anticomunistas  articularam-se a CIA, o IPES e o IBAD para conspirarem contra o governo.
A autora ainda destaca a grande contribuição do Dr Daniel Aarão Reis e sua análise sobre a democracia e critica os que consideram  revisionista as obras de Jorge Ferreira e Argelina Figueiredo. 
Vale lembrar também que o historiador é fruto do seu tempo estas análises estão  teoricamente fundamentadas em pensadores da "moda" na época, como por exemplo, a obra de Rene Dreiffus sobre o período está fundamentado nas teorias de Antonio Gramsci, pois suas ideias estavam bastante difundidas no meio acadêmico da época. 
A não abordagem dessa temática empobreceu um pouco o artigo, mas, de qualquer forma, o texto é excelente e certamente é muito esclarecedor desse período que ainda carece de mais divulgação, já que não é muito abordado pela grande mídia e um povo que não conhece a sua história não sabe para onde vai.